O ambiente corporativo é um espaço onde a convivência e a interação entre os colaboradores devem ser pautadas por respeito e ética. Entretanto, a natureza da dinâmica de trabalho e algumas práticas adotadas podem, muitas vezes, transformar esse espaço em um terreno hostil, onde o assédio moral pode se manifestar de formas sutis, porém impactantes. Um exemplo gritante dessa situação foi evidenciado em um recente caso judicial em que uma empresa foi condenada a indenizar uma ex-funcionária. O motivo? A promoção de uma “premiação” irônica e humilhante: a eleição da “rainha do absenteísmo”, um título concedido à trabalhadora com o maior número de faltas, mesmo que essas faltas fossem justificadas. Essa prática foi considerada, de forma unânime, como um claro exemplo de assédio moral.
A palavra “absenteísmo” refere-se à ausência de um trabalhador em seu ambiente de trabalho. No caso em questão, a empresa fez uso desse índice para criar um ranking que expunha a vulnerabilidade de um colaborador diante dos outros. Essa abordagem não apenas desrespeita a dignidade do trabalhador, mas também vai contra o que se espera de uma gestão responsável: o tratamento construtivo e profissional das questões relacionadas à assiduidade. Essa condenação judicial não apenas busca reparar o dano psicológico causado à funcionária, mas também serve como um aviso a outras empresas sobre a importância de garantir um ambiente de trabalho saudável e respeitoso.
A decisão da Justiça e o dano moral
A análise do caso realizado pela Justiça revelou que o comportamento da empresa extrapolou os limites do poder diretivo. Ao rotular a funcionária como “rainha do absenteísmo”, a companhia não buscou resolver a situação de forma profissional, mas optou por punir a colaboradora com uma exposição pública humilhante. O magistrado reconheceu que essa prática não apenas feriu a dignidade da ex-funcionária, mas também a causou sofrimento psicológico significativo, criando uma situação vexatória no ambiente de trabalho.
Durante a defesa, a empresa alegou que a dinâmica era uma “brincadeira interna” e que a intenção não era ofender. No entanto, a jurisprudência trabalhista tem se consolidado em uma perspectiva que prioriza o efeito do ato subordinado ao que pretendia o autor do ato. Ou seja, a intenção de quem agride se torna secundária perante o impacto que essa ação causa à vítima. Práticas que estimulem a competitividade e que utilizem a vergonha como ferramenta de pressão são vistas como tóxicas e ilegais no contexto das relações de trabalho atuais.
O impacto do reconhecimento da Justiça em casos como este é essencial, pois não apenas oferece uma reparação imediata à vítima, mas também educa as empresas sobre a necessidade de promover ambientes de trabalho saudáveis e respeitosos. Iniciativas que busquem satisfazer a produtividade através de dinâmicas humilhantes estão em desacordo com os princípios fundamentais que regem as relações de trabalho no Brasil.
O impacto das dinâmicas motivacionais equivocadas
Com a preocupação crescente em obter resultados rápidos, é comum que empresas adotem práticas que, ao invés de motivar, acabam por humilhar seus funcionários. A criação de rankings, como o da “rainha do absenteísmo”, serve como um exemplo claríssimo do que não se deve fazer. Há diversas outras dinâmicas motivacionais equivocadas que são frequentemente encontradas nos ambientes corporativos:
Rankings de “piores do mês”: Essa prática tem o potencial de expor o colaborador a uma situação de constrangimento, fazendo com que a competição saudável se torne uma ferramenta de pressão negativa.
Castigos simbólicos para quem não atinge metas: Ao invés de motivar, isso gera um clima de medo e ansiedade, prejudicando a saúde mental dos colaboradores.
Apelidos pejorativos incentivados pela liderança: É comum que alguns líderes, na tentativa de criar um ambiente descontraído, adotem piadas que desmerecem ou diminuem a autoestima de suas equipes.
Portanto, o caso da “rainha do absenteísmo” deve ser visto como um divisor de águas na atuação de empresas que buscam criar um ambiente saudável. O valor da indenização imposta à companhia não se limita à reparação do dano sofrido pela funcionária, mas também possui um caráter pedagógico, visando coibir futuras práticas abusivas. É imprescindível que as empresas atentem para o fato de que a saúde mental de seus colaboradores deve ser priorizada, pois um ambiente de trabalho onde o respeito reina é não apenas legal, mas também lucrativo.
Como as empresas podem evitar processos por assédio
A responsabilidade de criar um ambiente de trabalho saudável recai sobre as lideranças e gestores de recursos humanos. Em busca de evitar condenações trabalhistas, as empresas devem adotar práticas que promovam a ética e o respeito. Algumas estratégias eficazes incluem:
Treinamento de liderança: Investir na conscientização de líderes sobre a importância de uma gestão respeitosa e humana. Isso inclui entender a individualidade de cada colaborador e suas necessidades.
Canais de denúncia eficazes: É essencial criar um ambiente onde os colaboradores se sintam seguros para denunciar práticas abusivas e tóxicas, sem medo de retaliação.
Tratamento individual das questões de assiduidade: Em vez de expor o colaborador ao ridículo, é mais produtivo entender as causas das faltas e buscar soluções que abranjam questões de saúde ou problemas pessoais.
Além disso, o entendimento e a aplicação correta das normas estabelecidas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) são fundamentais para que as empresas promovam um ambiente de trabalho respeitoso. A responsabilidade social, cada vez mais em pauta, exige que as organizações se comprometam com a saúde mental de seus colaboradores. Quando a gestão se transforma em um processo de humilhação, os custos não são apenas financeiros, mas também de imagem e reputação.
Como se preparar para novas situações e evitar repetições
Investir na análise contínua do clima organizacional é crucial. Essa prática não serve apenas para resolver problemas, mas também para identificar áreas de melhoria antes que se tornem crises. Realizar entrevistas de saída e pesquisa de satisfação são métodos eficazes para explorar a saúde organizacional. Os feedbacks devem ser bem-vindos, e o ambiente deve transmitir segurança nos diálogos. Assim, ao invés de tratar os colaboradores como meros números, a empresa constrói um espaço onde todos são reconhecidos e valorizados.
O comprometimento com uma cultura organizacional que prioriza a saúde mental e o respeito mútuo não é apenas uma responsabilidade ética, mas também uma prática extremamente benéfica para os resultados financeiros da organização. Empresas que respeitam e cuidam de seus colaboradores tendem a ter um turnover menor, um maior engajamento e, consequentemente, melhores resultados.
Perguntas frequentes
Qual é a definição de absenteísmo?
O absenteísmo refere-se à frequência de faltas de um trabalhador no ambiente de trabalho, podendo incluir faltas justificadas e não justificadas.
Quais são os direitos dos trabalhadores em casos de assédio moral?
Os trabalhadores têm o direito a um ambiente de trabalho saudável e seguro, e têm o direito de denunciar comportamentos abusivos sem medo de retaliações.
Como a Justiça do Trabalho avalia processos de assédio?
A Justiça avalia a situação a partir do impacto emocional e psicológico que as práticas têm sobre a vítima, priorizando o bem-estar do trabalhador em comparação com a intenção do agressor.
O que a empresa pode fazer se um funcionário superar as metas?
Em vez de promover humilhações, a empresa deve reconhecer o desempenho com incentivos positivos e conversas construtivas.
As dinâmicas motivacionais podem ser benéficas?
Sim, desde que sejam realizadas de maneira respeitosa, promovendo a saúde mental e o engajamento positivo dos colaboradores.
Como uma empresa pode se proteger de processos trabalhistas?
Ao promover um ambiente de respeito e ética, investir em treinamentos e criar canais de comunicação abertos e seguros entre funcionários e gestores.
Conclusão
O caso da empresa que indenizou a ex-funcionária eleita “rainha do absenteísmo” é uma clara demonstração de que práticas que visam punir ou expor colaboradores no ambiente de trabalho são não só antiéticas, como também perigosas. A responsabilidade de proteger o bem-estar dos trabalhadores é fundamental e pode ser a chave para um ambiente de trabalho saudável e produtivo. As empresas devem refletir sobre sua cultura organizacional, priorizando o respeito e a dignidade humana, garantindo que o lugar onde todos trabalham seja também um local de crescimento e acolhimento.

Olá, meu nome é Gabriel, editor do site Jornal O Estado, focado 100%. Olá, meu nome é Gabriel, editor do site Jornal O Estado, focado 100%

